A área de saúde não é mais a mesma. Cada vez mais vemos inovações tecnológicas fazendo a diferença neste setor. Em razão dos avanços tecnológicos e do aumento da expectativa média de vida da população, entre outros fatores, os gastos na área da saúde vêm crescendo significativamente no Brasil.
Se de um lado as operadoras de planos de saúde reajustam seus valores para fazer frente ao aumento dos custos, levando seus contratantes e beneficiários a reclamarem da elevação de preços, de outro lado os médicos prestadores de serviços parecem insatisfeitos com seus honorários. Surge então um impasse. O tema foi apresentado pelo Diretor Técnico da ASAP, Dr. Fábio Gonçalves e moderado pelo Dr. Paulo Prado no último CONARH.
De acordo com o Dr. Fábio, o nosso sistema de saúde não foi criado para compensar e incentivar o médico. No setor de saúde suplementar, o pagamento por procedimentos ou fee for service é absolutamente predominante, enfoca somente a quantidade de atendimentos. Para ele, seria desejável que a qualidade fosse contemplada de alguma maneira, em benefício da população usuária dos serviços. Ele acredita que a avaliação de desempenho e de resultados, quando bem desenhada e acordada, pode trazer benefícios que vão além dos econômicos, motivando o aprimoramento e a superação constantes dos médicos.
Também acredita que, embora algumas das operadoras digam que já testaram ou que pensam em implantar modelo de remuneração por performance, poucas efetivamente o fizeram ou sabem como fazê-lo. E, apesar de quase todas criticarem o modelo fee for service, não acham que há outra forma mais prática e universal de remuneração neste momento no Brasil.
Dr. Fábio, que também é Diretor de Valor em saúde na Hospital Care, fala sobre o case implementado na sua empresa, onde foi adotado um novo modelo de remuneração na saúde, baseado no desfecho clínico do paciente. Segundo ele, a filosofia desta nova unidade está baseada no que chamam internamente de ‘Valor & Acesso’, seguindo a premissa de sempre oferecer o melhor desfecho clínico ao paciente. Sendo assim, ela é regida por três conceitos: melhorar a forma de prestação de contas entre as operadoras e hospitais para controle de qualidade e redução de desperdícios; possibilitar o acesso dos pacientes aos serviços de saúde específicos e necessários, direcionando o foco do pagamento; e desenvolvimento de estratégias inovadoras e tecnologias baseadas no melhor conhecimento científico e técnico existente.
Para o Dr. Paulo quando se fala em valor, é preciso pensar em um modelo que entregue o que corresponde a um melhor valor para a maioria das pessoas. Para ele, o valor não é mais como na década passada, necessário, por exemplo, que o RH procure saber dos seus funcionários o que eles querem receber de serviço de saúde. Ele avalia que o assunto, apesar de complexo, estimula a todos a encontrar soluções para o problema. Dr. Paulo também lembra que o Ministério da Saúde começa a pensar em um modelo de pagamento de remuneração por performance para ser aplicado no SUS. Entretanto, ele acredita que o sistema privado de saúde é que vai dar o start na mudança.
Dr. Fábio cita um case de sucesso nos Estados Unidos. Segundo ele, lá esse modelo é muito comum e as empresas que adotam são conhecidas como Accountable Care Organization (ACO), sendo que várias prestam serviços para o Medicare, programa de saúde do governo para idosos. A ACO mais famosa é ligada à Cleveland Clinic, tradicional centro médico americano, que atende a mais de 100 mil pessoas.
Um dos desafios das “ACOs” é integrar os médicos que cuidam dos procedimentos de baixa, média e alta complexidades para que o desfecho clínico do paciente seja bem-sucedido. O ideal é que o paciente seja bem acompanhado constantemente para evitar internações. Nos casos em que houver, por exemplo, uma cirurgia, é preciso que o paciente volte a ser tratado pelo médico de atenção primária a fim de evitar que ele seja internado novamente.
Observa-se que é senso comum a necessidade de haver debates como esse sobre novos mecanismos de remuneração médica se faz urgente no Brasil, pois esse pode ser um caminho para que a gestão de saúde da população, privada ou não, encontre sua sustentabilidade.
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